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Clostridium Difficile: hospitais europeus falham o diagnóstico de uma média de 74 casos por dia

O EUCLID, um estudo europeu de prevalência da infeção hospitalar pela bactéria Clostridium difficile (CDI), que contou com a participação de 11 hospitais portugueses, teve como objetivo analisar a prevalência e a eficácia do diagnóstico junto de 482 hospitais em 20 países europeus.
O estudo revelou elevadas disparidades nas práticas de diagnóstico e evidenciou o verdadeiro impacto da infeção.
O subdiagnóstico representa um problema por várias razões: doentes não diagnosticados representam risco de transmissão e estão sujeitos a muitos procedimentos desnecessários de procura da causa dos sintomas. Por outro lado, um diagnóstico incorreto distorce os dados epidemiológicos.
As principais razões para o subdiagnóstico apontadas pelo estudo prendem-se com pouca sensibilidade dos métodos de diagnóstico da infeção e ausência de suspeita clínica da presença da infeção.
Em relação a estas duas razões, os investigadores apontam como soluções a harmonização e estandardização dos métodos de diagnóstico, bem como um maior investimento em conhecimento dos profissionais de saúde relativamente à infeção e uma maior abertura em relação às políticas restritivas de pedido de análises laboratoriais.
Na Europa, 23% dos casos não foram diagnosticados pelos hospitais, representando 74 casos de infeção não detectados por dia.
Para a especialista Mónica Oleastro, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, coordenadora do estudo a nível nacional, “o subdiagnóstico representa um sério problema pois o doente infetado não recebe o tratamento adequado, e por outro lado não são aplicadas as devidas medidas de isolamento, potenciando a ocorrência de surtos da infeção. O subdiagnóstico leva também a que não se tenha uma noção exata da incidência desta grave infeção hospitalar, o que resulta num menor controlo da mesma.”
“A taxa de subdiagnóstico identificada no EUCLID é muito preocupante, especialmente quando pensamos que não foram diagnosticados 40.000 casos na amostra de 482 hospitais, dos 8.000 existentes no total, o que poderá aumentar exponencialmente este número”, continua a coordenadora nacional do estudo.
Com base nos dados reportados pelos hospitais participantes, verificou-se um aumento da incidência em vários países da Europa, sendo a média de 6,6 casos por cada 10.000 dias de internamento, contra uma taxa de 4,1 observada num estudo multicêntrico realizado em 2008. Estes dados contrastam marcadamente com os dados medidos no estudo EUCLID, que mostram uma incidência média na Europa de 19 casos por 10.000 dias de internamento, e uma incidência de 19,3 para Portugal, muito acima do valor médio nacional reportado de 2,9.
Para Mónica Oleastro “o estudo EUCLID é um importante contributo para o conhecimento da epidemiologia da infeção. Torna-se, contudo, essencial a realização de um estudo mais aprofundado em Portugal”, sustenta a investigadora.
O estudo foi realizado entre dezembro de 2012 e agosto de 2013. Participaram 482 hospitais de 20 países europeus e foram recolhidas e analisadas 7297 amostras.